pituxomania43

Wednesday, September 27, 2006

63. CULTURA IAUNDÊ

http://www.upatsix.com/faq/greyfaq.htm

-site com informacoes sobre o grey parrot


Fuzing.com
African Parrots & Co


Company Type :
Exporter
Contact :
Praz Babila
Address :
African Parrots & Co.P.O Box 422Bamenda, N.W.P, 237Cameroon
Telephone :
[237] (706) 8777
Fax :
[237] (336) 3553
Name(s) of Principals :
Tina Shrawere, Praz Babila
Commenced Business :
2000
At This Address Since :
2004
Number Of Employees :
12
Plant Locations :
Africa








Passaros mais comumentos vistos nos diferentes habitats do Camerooun

COMMON BIRDSPECIES
The following list of birds we saw frequently and if you spend any sort of time in the right habitats you will too:
Long-tailed Cormorant, Cattle Egret, Hamerkop, Hadada Ibis, Black Kite, Hooded Vulture, Helmeted Guineafowl, Wood Sandpiper, Laughing Dove, Vinaceous Dove, Red-eyed Dove, Speckled Mousebird, Senegal Coucal, African Palm-Swift, Little Swift, Abyssinian Roller, African Grey Hornbill, Fork-tailed Drongo, Pied Crow, African Thrush, Lesser Blue‑eared Glossy‑Starling, Northern Black‑Flycatcher, Whinchat, Barn Swallow, Common Bulbul, African Yellow White-eye, Willow Warbler, Brown Babbler, Grey‑headed Sparrow, Bush Petronia, Red‑cheeked Cordonblue, Black‑and‑white Mannikin, Yellow Wagtail, Village Weaver, Vieillot's Black Weaver, Pygmy Sunbird, Olive‑bellied Sunbird.




http://artesdoparque.no.sapo.pt/

- mandar para a Carol

http://www.frenchassistant.com/register.asp

- aulas de frances

211447



http://www.counterpunch.org/anderson08232006.html

- jornal Americano de esquerda

http://www.badastronomy.com/bablog/2006/08/15/congratulations-its-a-planet/

- caso de Pluto - Who wants to undermining it?

info@SatelliteTVonPC.com


Dear Sir

If I change my computer or country I still will get the benefit of it. I am in Cameroun for approx 3 months and after I wll go back to Brasil! How this programe works if needs to be reinstalled in another PC?

Sinc. yours

Vecchio


http://www.regisbonvicino.com.br/textcrit44predileto.htm

site interessante sobre lieratura brasileira por Régis Bonvicino
THE DISPLACEMENT OF THE "SCHOLASTIC":NEW BRAZILIAN POETRY OF INVENTION


ENTREGA DE MACAU É METÁFORA DA LÍNGUA PORTUGUESA AMEAÇADA

Hoje, Macau, cidade-Estado, conurbada com Hong Kong, volta a pertencer integralmente à República Popular da China. É o fim do "Império Português", que se iniciou no século 15, com a conquista de Ceuta. Macau, com cerca de 400 mil habitantes, vem sendo recuperada pela China desde os anos 60, mas se manteve, até agora, numa transição negociada, sob administração de Portugal. Essa "passagem" é, em si, metáfora, que diz, igualmente, respeito ao Brasil: a da possibilidade real da extinção da língua portuguesa, em prazo não tão longo, num mundo sob intensa concorrência, inclusive, linguística. Ameaça que ganha corpo diante da ausência por parte do Estado brasileiro de uma política de expansão para a língua. Não bastou que Luís de Camões tivesse escrito parte de "Os Lusíadas" lá, por volta de 1556, numa gruta estreita (hoje conhecida como Gruta de Camões), para que seu idioma respirasse mais vivo por este conjunto de ilhas. Hoje ele tem existência "teórica": 95% da população fala chinês, e apenas 3% português. O budismo é a religião de mais de 50% dos macauenses, contra 15% de católicos. Não bastou também, portanto, que Camilo Pessanha, o simbolista, tenha vivido e escrito quase toda a sua obra por lá. Camilo é repudiado até hoje por seu racismo antichinês. Em virtude desse cenário de "quarto minguante", é de espantar que alguém, nascido em Pequim, em 1958, tenha aprendido a língua de Camões e se tornado poeta bilíngue, escrevendo em chinês e português, indiferentemente. E que, por essa razão, tenha se mudado para Macau, em 1992. É o caso de Yao Jingming, autor até aqui de "Nas Asas do Vento Cego" (Lisboa,1991) e de "Confluências" (Folha de Lótus, Macau, 1997), num movimento que propõe, como o do verso de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos): "um Oriente ao oriente do Oriente". Aliás, Yao é o principal tradutor para seu idioma materno da obra do próprio Pessoa. A poesia chinesa pós-Mao, a partir da década de 80, abandonou as regras formais da poesia clássica e se estruturou em torno de diálogos com o Ocidente. Walt Whitman, Lorca, Neruda, Rilke, Baudelaire, Borges, Holderlin são alguns dos nomes que a influenciam e estimulam a produção de Bei Dao, o maior poeta chinês vivo, exilado nos EUA, e a de Yao, quer em chinês, quer em português. A poesia deixou, nesse período, de servir ao Partido Comunista e se abriu para todas as formas de expressão com liberdade. Mas o que chama a atenção na poesia de Yao é o intercâmbio sintático que promove entre as duas línguas. Em português, conserva a força étnica e isolante do chinês e escreve quase que em "pictogramas". E para o chinês leva a outra tribo de sílabas que descobriu no português. Nas duas línguas, compõe em transições. É o que deixa ver em "Ser e Estar", poema inédito, cedido especialmente à Folha: Às vezes / quero ser ... / Às vezes / quero estar ... / Às vezes / quero estar ... e ser ... / Juntam-se / todos os meus sentidos / moeda / em movimento / Sei que se vai extinguir / Não sei o que vai ficar". O poema, além de captar as investidas do capital ("moeda em movimento"), registra o português ameaçado pelo inglês, pelo espanhol, pelo chinês com 1,2 bilhão de falantes e que, por isso, talvez vá mesmo se extinguir, não só em Macau, se não houver luta e políticas de valorização etc. Todavia ficará um português achinesado e um chinês aportuguesado na obra desse poeta promissor que se aventurou a uma espécie de "Oriente ao oriente do Oriente do Ocidente". E que nos mostra que, mais do que "exotismo", Macau é, ao mesmo tempo, diferença na voz de Jingming e semelhança na iminência de desaparecimento da identidade da língua.
Régis Bonvicino, 20 de dezembro de 1999
http://www.antropofagia.com.br/antropofagia/pt/man_paubrasil.html

A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança.
Toda a história bandeirante e a história comercial do Brasil. O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente. Rui Barbosa: uma cartola na Senegâmbia. Tudo revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e das frases feitas. Negras de Jockey. Odaliscas no Catumbi. Falar difícil.
O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho.
A nunca exportação de poesia. A poesia anda oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitária.
Mas houve um estouro nos aprendimentos. Os homens que sabiam tudo se deformaram como borrachas sopradas. Rebentaram.A volta à especialização. Filósofos fazendo filosofia, críticos, critica, donas de casa tratando de cozinha.A Poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e descobrem.
Tinha havido a inversão de tudo, a invasão de tudo : o teatro de tese e a luta no palco entre morais e imorais. A tese deve ser decidida em guerra de sociólogos, de homens de lei, gordos e dourados como Corpus Juris.Ágil o teatro, filho do saltimbanco. Agil e ilógico. Ágil o romance, nascido da invenção. Ágil a poesia.A poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma criança.
Uma sugestão de Blaise Cendrars : – Tendes as locomotivas cheias, ides partir. Um negro gira a manivela do desvio rotativo em que estais. O menor descuido vos fará partir na direção oposta ao vosso destino.
Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. Engenheiros em vez de jurisconsultos, perdidos como chineses na genealogia das idéias.A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.
Não há luta na terra de vocações acadêmicas. Há só fardas. Os futuristas e os outros.Uma única luta – a luta pelo caminho. Dividamos: Poesia de importação. E a Poesia Pau-Brasil, de exportação.
Houve um fenômeno de democratização estética nas cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o naturalismo. Copiar. Quadros de carneiros que não fosse lã mesmo, não prestava. A interpretação no dicionário oral das Escolas de Belas Artes queria dizer reproduzir igualzinho... Veio a pirogravura. As meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a máquina fotográfica. E com todas as prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da misteriosa genialidade de olho virado – o artista fotógrafo.Na música, o piano invadiu as saletas nuas, de folhinha na parede. Todas as meninas ficaram pianistas. Surgiu o piano de manivela, o piano de patas. A pleyela. E a ironia eslava compôs para a pleyela. Stravinski.A estatuária andou atrás. As procissões saíram novinhas das fábricas.Só não se inventou uma máquina de fazer versos – já havia o poeta parnasiano.
Ora, a revolução indicou apenas que a arte voltava para as elites. E as elites começaram desmanchando. Duas fases: 10) a deformação através do impressionismo, a fragmentação, o caos voluntário. De Cézanne e Malarmé, Rodin e Debussy até agora. 20) o lirismo, a apresentação no templo, os materiais, a inocência construtiva.O Brasil profiteur. O Brasil doutor. E a coincidência da primeira construção brasileira no movimento de reconstrução geral. Poesia Pau-Brasil.
Como a época é miraculosa, as leis nasceram do próprio rotamento dinâmico dos fatores destrutivos.A sínteseO equilíbrioO acabamento de carrosserieA invençãoA surpresaUma nova perspectivaUma nova escala.
Qualquer esforço natural nesse sentido será bom. Poesia Pau-Brasil
O trabalho contra o detalhe naturalista – pela síntese; contra a morbidez romântica – pelo equilíbrio geômetra e pelo acabamento técnico; contra a cópia, pela invenção e pela surpresa.
Uma nova perspectiva.A outra, a de Paolo Ucello criou o naturalismo de apogeu. Era uma ilusão ética. Os objetos distantes não diminuíam. Era uma lei de aparência. Ora, o momento é de reação à aparência. Reação à cópia. Substituir a perspectiva visual e naturalista por uma perspectiva de outra ordem: sentimental, intelectual, irônica, ingênua.
Uma nova escala:A outra, a de um mundo proporcionado e catalogado com letras nos livros, crianças nos colos. O redame produzindo letras maiores que torres. E as novas formas da indústria, da viação, da aviação. Postes. Gasômetros Rails. Laboratórios e oficinas técnicas. Vozes e tics de fios e ondas e fulgurações. Estrelas familiarizadas com negativos fotográficos. O correspondente da surpresa física em arte.A reação contra o assunto invasor, diverso da finalidade. A peça de tese era um arranjo monstruoso. O romance de idéias, uma mistura. O quadro histórico, uma aberração. A escultura eloquente, um pavor sem sentido.Nossa época anuncia a volta ao sentido puro.
Um quadro são linhas e cores. A estatuária são volumes sob a luz.
A Poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira, com passarinhos cantando na mata resumida das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente.
Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres.
Temos a base dupla e presente – a floresta e a escola. A raça crédula e dualista e a geometria, a algebra e a química logo depois da mamadeira e do chá de erva-doce. Um misto de "dorme nenê que o bicho vem pegá" e de equações.Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos, nas turbinas elétricas; nas usinas produtoras, nas questões cambiais, sem perder de vista o Museu Nacional. Pau-Brasil.
Obuses de elevadores, cubos de arranha-céus e a sábia preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia íntima. O sabiá. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de aviação militar. Pau-Brasil.
O trabalho da geração futurista foi ciclópico. Acertar o relógio império da literatura nacional.Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser regional e puro em sua época.
O estado de inocência substituindo o estada de graça que pode ser uma atitude do espírito.O contrapeso da originalidade nativa para inutilizar a adesão acadêmica.
A reação contra todas as indigestões de sabedoria. O melhor de nossa tradição lírica. O melhor de nossa demonstração moderna.
Apenas brasileiros de nossa época. O necessário de química, de mecânica, de economia e de balística. Tudo digerido. Sem meeting cultural. Práticos. Experimentais. Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem comparações de apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia.Bárbaros, crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais. Pau-Brasil. A floresta e a escola. O Museu Nacional. A cozinha, o minério e a dança. A vegetação. Pau-Brasil.
OSWALD DE ANDRADECorreio da Manhã, 18 de março de 1924.)
http://www.planetanews.com/produto/L/7316
Muralha, ADINAH SILVEIRA DE QUEIROZClique aqui para comprar este produto no Submarino.com.brConheça outros produtos indicados pelo Planetanews.
Muralha, A

DINAH SILVEIRA DE QUEIROZ Publicado originalmente em autor 1954, para comemorar entretanto o IV Centenário de fundação da cidade de São Paulo, o romance A Muralha , ambientado no sertão paulista do fim do século XVII, no tempo escritor dos bandeirantes, narra autor paixões e sucessos violentos entre personagens marcantes. Dinah Queiroz foi a segunda mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras, depois de Rachel de Queiroz.
















A moralista
Dinah Silveira de Queiroz
http://www.releituras.com/dinahsq_menu.asp
Se me falam em virtude, em moralidade ou imoralidade, em condutas, enfim, em tudo que se relacione com o bem e o mal, eu vejo Mamãe em minha idéia. Mamãe — não. O pescoço de Mamãe, a sua garganta branca e tremente, quando gozava a sua risadinha como quem bebe café no pires. Essas risadas ela dava principalmente à noite, quando — só nós três em casa — vinha jantar como se fosse a um baile, com seus vestidos alegres, frouxos, decotados, tão perfumada que os objetos a seu redor criavam uma pequena atmosfera própria, eram mais leves e delicados. Ela não se pintava nunca, mas não sei como fazia para ficar com aquela lisura de louça lavada. Nela, até a transpiração era como vidraça molhada: escorregadia, mas não suja. Diante daquela pulcritude minha face era uma miserável e movimentada topografia, onde eu explorava furiosamente, e em gozo físico, pequenos subterrâneos nos poros escuros e profundos, ou vulcõezinhos que estalavam entre as unhas, para meu prazer. A risada de Mamãe era um "muito obrigada" a meu Pai, que a adulava como se dela dependesse. Porém, ele mascarava essa adulação brincando e a tratando eternamente de menina. Havia muito tempo uma espírita dissera a Mamãe algo que decerto provocou sua primeira e especial risadinha:— Procure impressionar o próximo. A senhora tem um poder extraordinário sobre os outros, mas não sabe. Deve aconselhar... Porque... se impõe, logo à primeira vista. Aconselhe. Seus conselhos não falharão nunca. Eles vêm da sua própria mediunidade...Mamãe repetiu aquilo umas quatro ou cinco vezes, entre amigas, e a coisa pegou, em Laterra.Se alguém ia fazer um negócio, lá aparecia em casa para tomar conselhos. Nessas ocasiões Mamãe, que era loura e pequenina, parecia que ficava maior, toda dura, de cabecinha levantada e dedo gordinho, em riste. Consultavam Mamãe a respeito de política, dos casamentos. Como tudo que dizia era sensato, dava certo, começaram a mandar-lhe também pessoas transviadas. Uma vez, certa senhora rica lhe trouxe o filho, que era um beberrão incorrigível. Lembro-me de que Mamãe disse coisas belíssimas, a respeito da realidade do Demônio, do lado da Besta, e do lado do Anjo. E não apenas ela explicou a miséria em que o moço afundava, mas o castigo também com palavras tremendas. Seu dedinho gordo se levantava, ameaçador, e toda ela tremia de justa cólera, porém sua voz não subia do tom natural. O moço e a senhora choravam juntos.Papai ficou encantado com o prestígio de que, como marido, desfrutava. Brigas entre patrão e empregado, entre marido e mulher, entre pais e filhos vinham dar em nossa casa. Mamãe ouvia as partes, aconselhava, moralizava. E Papai, no pequeno negócio, sentia afluir a confiança que se espraiava até seus domínios.Foi nessa ocasião que Laterra ficou sem padre, porque o vigário morrera e o bispo não mandara substituto. Os habitantes iam casar e batizar os filhos em Santo Antônio. Mas, para suas novenas e seus terços, contavam sempre com minha Mãe. De repente, todos ficaram mais religiosos. Ela ia para a reza da noite de véu de renda, tão cheirosa e lisinha de pele, tão pura de rosto, que todos diziam que parecia e era, mesmo, uma verdadeira santa. Mentira: uma santa não daria aquelas risadinhas, uma santa não se divertia, assim. O divertimento é uma espécie de injúria aos infelizes, e é por isso que Mamãe só ria e se divertia quando estávamos sós.Nessa época, até um caipira perguntou na feira de Laterra:— Diz que aqui tem uma padra. Onde é que ela mora? Contaram a Mamãe. Ela não riu:— Eu não gosto disso. — E ajuntou: Nunca fui uma fanática, uma louca. Sou, justamente, a pessoa equilibrada, que quer ajudar ao próximo. Se continuarem com essas histórias, eu nunca mais puxo o terço.Mas, nessa noite, eu vi sua garganta tremer, deliciada:— Já estão me chamando de "padra"... Imagine!Ela havia achado sua vocação. E continuou a aconselhar, a falar bonito, a consolar os que perdiam pessoas queridas. Uma vez, no aniversário de um compadre, Mamãe disse palavras tão belas a respeito da velhice, do tempo que vai fugindo, do bem que se deve fazer antes que caia a noite, que o compadre pediu:— Por que a senhora não faz, aos domingos, uma prosa desse jeito? Estamos sem vigário, e essa mocidade precisa de bons conselhos...Todos acharam ótima a idéia. Fundou-se uma sociedade: "Círculo dos Pais de Laterra", que tinha suas reuniões na sala da Prefeitura. Vinha gente de longe, para ouvir Mamãe falar. Diziam todos que ela fazia um bem enorme às almas, que a doçura das suas palavras confortava quem estivesse sofrendo. Várias pessoas foram por ela convertidas. Penso que meu Pai acreditava, mais do que ninguém, nela. Mas eu não podia pensar que minha Mãe fosse um ser predestinado, vindo ao mundo só para fazer o bem. Via tão claramente o seu modo de representar, que até sentia vergonha. E ao mesmo tempo me perguntava:— Que significam estes escrúpulos? Ela não une casais que se separam, ela não consola as viúvas, ela não corrige até os aparentemente incorrigíveis? Um dia, Mamãe disse ao meu Pai, na hora do almoço:— Hoje me trouxeram um caso difícil... Um rapaz viciado. Você vai empregá-lo. Seja tudo pelo amor de Deus. Ele me veio pedir auxílio... e eu tenho que ajudar. O pobre chorou tanto, implorou... contando a sua miséria. É um desgraçado!Um sonho de glória a embalou:— Sabe que os médicos de Santo Antônio não deram nenhum jeito? Quero que você me ajude. Acho que ele deve trabalhar... aqui. Não é sacrifício para você, porque ele diz que quer trabalhar para nós, já que dinheiro eu não aceito mesmo, porque só faço caridade!O novo empregado parecia uma moça bonita. Era corado, tinha uns olhos pretos, pestanudos, andava sem fazer barulho. Sabia versos de cor, e às vezes os recitava baixinho, limpando o balcão. Quando o souberam empregado de meu Pai — foram avisá-lo:— Isso não é gente para trabalhar em casa de respeito!— Ela quis — respondeu meu Pai. — Ela sempre sabe o que faz!O novo empregado começou o serviço com convicção, mas tinha crises de angústia. Em certas noites não vinha jantar conosco, como ficara combinado. E aparecia mais tarde, os olhos vermelhos.Muitas vezes, Mamãe se trancava com ele na sala, e a sua voz de tom igual, feria, era de repreensão. Ela o censurava, também, na frente de meu Pai, e de mim mesma, porém sorrindo de bondade:— Tire a mão da cintura. Você já parece uma moça, e assim, então...Mas sabia dizer a palavra que ele desejaria, decerto, ouvir:— Não há ninguém melhor do que você, nesta terra! Por que é que tem medo dos outros? Erga a cabeça... Vamos!Animado, meu Pai garantia:— Em minha casa ninguém tem coragem de desfeitear você. Quero ver só isso!Não tinha mesmo. Até os moleques que, da calçada, apontavam e riam, falavam alto, ficavam sérios e fugiam, mal meu Pai surgisse à porta.E o moço passou muito tempo sem falhar nos jantares. Nas horas vagas fazia coisas bonitas para Mamãe. Pintou-lhe um leque e fez um vaso em forma de cisne, com papéis velhos molhados, e uma mistura de cola e nem sei mais o quê. Ficou meu amigo. Sabia de modas, como ninguém. Dava opinião sobre os meus vestidos. À hora da reza, ele, que era tão humilhado, de olhar batido, já vinha perto de Mamãe, de terço na mão. Se chegavam visitas, quando estava conosco, ele não se retirava depressa como fazia antes. E ficava num canto, olhando tranqüilo, com simpatia. Pouco a pouco eu assistia, também, à sua modificação. Menos tímido, ele ficara menos afeminado. Seus gestos já eram confiantes, suas atitudes menos ridículas.Mamãe, que policiava muito seu modo de conversar, já se esquecia de que ele era um estranho. E ria muito à vontade, suas gostosas e trêmulas risadinhas. Parece que não o doutrinava, não era preciso mais. E ele deu de segui-la fielmente, nas horas em que não estava no balcão. Ajudava-a em casa, acompanhava-a nas compras. Em Laterra, soube depois, certas moças que por namoradeiras tinham raiva da Mamãe, já diziam, escondidas atrás da janela, vendo-a passar:— Você não acha que ela consertou... demais?Laterra tinha orgulho de Mamãe, a pessoa mais importante da cidade. Muitos sentiam quase sofrimento, por aquela afeição que pendia para o lado cômico. Viam-na passar depressa, o andar firme, um tanto duro, e ele, o moço, atrás, carregando seus embrulhos, ou ao lado levando sua sombrinha, aberta com unção, como se fora um pálio. Um franco mal-estar dominava a cidade. Até que num domingo, quando Mamãe falou sobre a felicidade conjugal, sobre os deveres do casamento, algumas cabeças se voltaram quase imperceptivelmente para o rapaz, mas ainda assim eu notei a malícia. E qualquer absurdo sentimento arrasou meu coração em expectativa.Mamãe foi a última a notar a paixão que despertara:— Vejam, eu só procurei levantar seu moral... A própria mãe o considerava um perdido — chegou a querer que morresse! Eu falo — porque todos sabem — mas ele hoje é um moço de bem!Papai foi ficando triste. Um dia, desabafou:— Acho melhor que ele vá embora. Parece que o que você queria, que ele mostrasse que poderia ser decente e trabalhador, como qualquer um, afinal conseguiu! Vamos agradecer a Deus e mandá-lo para casa. Você é extraordinária!— Mas — disse Mamãe admirada. — Você não vê que é preciso mais tempo... para que se esqueçam dele? Mandar esse rapaz de volta, agora, até é um pecado! Um pecado que eu não quero em minha consciência.Houve uma noite em que o moço contou ao jantar a história de um caipira, e Mamãe ria como nunca, levantando a cabeça pequenina, mostrando a sua nudez mais perturbadora —seu pescoço — naquele gorjeio trêmulo. Vi-o ao empregado, ficar vermelho e de olhos brilhantes, para aquele esplendor branco. Papai não riu. Eu me sentia feliz e assustada. Três dias depois o moço adoeceu de gripe. Numa visita que Mamãe lhe fez, ele disse qualquer coisa que eu jamais saberei. Ouvimos pela primeira vez a voz de Mamãe vibrar alto, furiosa, desencantada. Uma semana depois ele estava restabelecido, voltava ao trabalho. Ela disse a meu Pai:— Você tem razão. É melhor que ele volte para casa.À hora do jantar, Mamãe ordenou à criada:— Só nós três jantamos em casa! Ponha três pratos...No dia seguinte, à hora da reza, o moço chegou assustado, mas foi abrindo caminho, tomou seu costumeiro lugar junto de Mamãe:— Saia!... — disse ela baixo, antes de começar a reza. Ele ouviu — e saiu, sem nem ao menos suplicar com os olhos.Todas as cabeças o seguiram lentamente. Eu o vi de costas, já perto da porta, no seu andar discreto de mocinha de colégio, desembocar pela noite.— Padre Nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso Nome...Desta vez as vozes que a acompanhavam eram mais firmes do que nos últimos dias.Ele não voltou para a sua cidade, onde era a caçoada geral. Naquela mesma noite, quando saía de Laterra, um fazendeiro viu como que um longo vulto balançando de uma árvore. Homem de coragem, pensou que fosse algum assaltante. Descobriu o moço. Fomos chamados. Eu também o vi. Mamãe não. À luz da lanterna, achei-o mais ridículo do que trágico, frágil e pendente como um judas de cara de pano roxo. Logo uma multidão enorme cercou a velha mangueira, depois se dispersou. Eu me convenci de que Laterra toda respirava aliviada. Era a prova! Sua senhora não transigira, sua moralista não falhara. Uma onda de desafogo espraiou-se pela cidade.Em casa não falamos no assunto, por muito tempo. Porém Mamãe, perfeita e perfumada como sempre, durante meses deixou de dar suas risadinhas, embora continuasse agora, sem grande convicção — eu o sabia — a dar os seus conselhos. Todavia punha, mesmo no jantar, vestidos escuros, cerrados no pescoço.
Dinah Silveira de Queiroz nasceu em 09/11/1910 na capital paulista. Publicou seu primeiro conto em 1937, e dois anos depois lançou seu primeiro livro, "Floradas na Serra", obtendo grande sucesso e sendo premiada pela Academia Paulista de Letras. Em 1954 recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra. Desempenhou as funções de adido cultural do Brasil junto à nossa Embaixada em Madrid. É a autora de "A Sereia Verde", "Margarida La Roque", "Aventuras do Homem Vegetal", "A Muralha", "O Oitavo Dia", "As Noites do Morro do Encanto", dentre outros. Como cronista, assinou no jornal A Manhã, do Rio de Janeiro, a seção "Café da Manhã", e no Jornal do Commércio, da mesma cidade, a seção "Jornalzinho Pobre". Colaborou em programas na Rádio Ministério da Educação e na Rádio Nacional.
O texto acima foi publicado no livro "Histórias do Amor Maldito", Editora Record — Rio de Janeiro, 1967, seleção de Gasparino Damata. Foi considerado e consta do livro "Cem melhores contos brasileiros do século", seleção de Ítalo Moriconi, em edição da Objetiva — Rio de Janeiro, 2000, pág. 180.